Para aguçar ainda mais a curiosidade com o Nosferatu, fizemos uma entrevista com o autor do jogo, Pierre-Yves Lebeau, que se mostrou muito simpático, solícito e feliz por seu jogo estar vindo para o Brasil! Veja abaixo esse bate-papo:
Conclave Editora (CE) – Pierre, Nosferatu é o seu primeiro trabalho com um jogo? Ou, pelo menos, o seu primeiro trabalho profissional ou você já trabalhou na produção de outros jogos?
Pierre-Yves Lebeau (PYL) – Nosferatu não é o primeiro jogo que eu criei. Eu trabalhei anteriormente num jogo tático que ainda não foi lançado. No entanto, Nosferatu é uma história bastante antiga. Eu comecei a trabalhar nele em 1998! Durante o processo de design, eu fiz várias pausas e trabalhei em diferentes projetos. Mas Nosferatu é meu primeiro jogo publicado.
CE – Nosferatu é um grande jogo, com uma surpreendente simplificação de regras. Como foi o processo para chegar às regras finais? Isso demandou muitos playtests? Quanto tempo levou da primeira experiência com Nosferatu até a publicação da primeira edição do jogo?
PYL – Obrigado pelas suas amáveis palavras. Bem, o processo foi longo e demandou muitos playtests! Entre 1998 e 2001, eu fiz muitos tests e o feedback dos jogadores foi bom, mas havia algumas questões que eu não pude resolver. Então, eu deixei o projeto “descansando em um caixão” por longos anos…
Em 2009, eu decidi retomar o projeto novamente. Eu fiz uma espécie de “tabula rasa”: Nosferatu teria uma nova base e suas ideias principais: Renfield (resolvendo diferentes questões para o Vampiro) a o Relógio (um mecanismo para trazer pistas para os Caçadores e pressionar o Vampiro). Então, eu trabalhei duro nesse novo sistema por três anos. Fiz mais de 100 playtests! O feedback dos jogadores foi tão surpreendente que eu decidi contatar as editoras. Três editoras francesas ficaram interessadas. Eu escolhi Grosso Modo Éditions. É muito legal trabalhar com eles, eles são caras muito legais.
CE – Qual foi a inspiração para Nosferatu (ambientação e regras)?
PYL – Falando de ambientação, quando eu era um adolescente, eu era um fã de histórias góticas de vampiros. Drácula de Bram Stoker é, obviamente, a principal fonte do jogo. Eu também amo o filme chamado Nosferatu do diretor alemão Werner Herzog (1979), que talvez seja o mais bonito e misterioso filme de vampiro.
Em relação às regras, eu acredito que o Nosferatu não tenha qualquer inspiração! Eu espero que isso não soe pretensioso. Na verdade, eu comecei a trabalhar no jogo em 1998, quando jogos de papéis ocultos (hidden-role games) não eram ainda populares e abundantes. Meu objetivo durante o design do Nosferatu era traduzir as histórias clássicas de vampiros em mecanismos de jogo. Por exemplo: o Relógio (que pode causar a morte do vampiro quando o sol nasce) e as mordidas (dando ao Vampiro uma espécie de influência nas escolhas dos Caçadores).
CE – Falando de inspiração, quais são os seus jogos Top 10, e por quê?
PYL – Aqui está meu Top 10, mas não há um nº 1e um nº 10, isso depende do humor do dia!
- Diplomacy – Provavelmente o jogo de tabuleiro que eu joguei mais quando era adolescente. Esse jogo é a perfeição em radicalismo e tensão psicológica. Eu também gosto de jogá-lo online, porque eu amo escrever longas mensagens diplomáticas, incluindo interpretação (role-play) e truques sorrateiros também!
- Rome&Carthage – Um jogo estratégico de 1954 que meu pai jogava comigo e meus irmãos quando éramos crianças (bem, eu não nasci em 1954!). Então, esse jogo tem um valor sentimental para mim. E ele é o link entre mim e a Grosso Modo Éditions, que reeditou Rome&Carthage pouco antes de publicar o Nosferatu.
- Squad Leader – O wargame que eu mais joguei, durante horas e horas…
- Donjons and Dragons (Dungeons & Dragons) – Meu primeiro RPG, em 1984! Memórias maravilhosas…
- Call of Cthulhu – O RPG que eu joguei mais vezes como mestre. Que atmosfera!
- Android Netrunner – Meu jogo de deck-building favorite. Eu amo a sua dimensão de blefe e o ritmo das partidas. Ultimamente, eu tenho jogado várias vezes por semana!
- Dixit – Perfeito para jogar com os amigos depois de um bom almoço… Um jogo com poesia e sutileza.
- Ghost Stories – Meu jogo cooperative favorite. Eu joguei este diversas vezes com minha esposa!
- Junta – Porque é um jogo para pessoas más e hipócritas!
- Scrabble – Sim, eu gusto de jogar Scrabble… mas somente com as regras duplicadas.
CE – De volta à primeira pergunta, você está trabalhando em outro projeto de jogo no momento?
PYL – Tantos! Muitos!
CE – Nós sabemos que você também é músico e tem uma banda chamada Hide & Seek. Que tipo de música vocês fazem? Existe algumtipo de relação entre fazer música e desenvolver jogos?
PYL – Essa é uma pergunta legal, eu não esperava por ela! Eu componho canções por muitos antos com minha esposa, como um dueto chamado Hide&Seek (www.hideandseek.fr). Nossa música é algo entre coldwave e música pop. Minhas principais influências são The Legendary Pink Dots, Talk Talk, The Nits, Minimal Compact, Depeche Mode etc. Existe um link direto entre compor canções e criar jogos: criar atmosferas e desenvolver mecanismos mentais para se divertir com isso. Em ambas as atividades, eu passo o tempo me preocupando com os detalhes.
Há um outro link. A banda Opera Multi Steel (bons amigos meus, que tocam comigo) tem muitos fãs no Brasil. Eles me contaram belas memórias dos shows que fizeram em São Paulo.
CE – Como é a experiência de ter um jogo seu publicado através do mundo, em particular, aqui, no Brasil?
PYL – É claro que é maravilhoso imaginar meu jogo cruzando fronteiras, mares e oceanos, sendo jogado em diferentes idiomas. Nosferatu já foi publicado em diversos países, mas o Brasil é o mais longe da França!
CE – A versão brasileira do Nosferatu será como a nova versão francesa e alemã, com as regras revisadas e atualizadas. Qual foi a motivação para as mudanças nas regras. Como foi o processo para chegar nessas novas regras?
PYL – Depois de um ano de publicação e de ter passado por diversas convenções e festivais, nós recebemos muitos feedbacks de muitos jogadores, então, é claro, eu e meu editor vimos maneiras de aprimorar a qualidade do jogo. Nos queríamos escutar os jogadores. São apenas umas sutis modificações; o jogo permanece o mesmo.
Primeiro nós decidimos remover a carta Darkness. Essa carta é uma carta de referência: ela mostra rapidamente quando uma ou várias mordidas foram dadas desde que a Biblioteca foi formada. Sua finalidade é evitar que o Vampiro fique longos períodos sem dar uma mordida e esperando que os Caçadores acabem se matando. Então, eu a substituí por um novo mecanismo: o time do mal perde se os Caçadores realizarem os 5 Rituais. É bastante difícil de se fazer isso, então o equilíbrio do jogo não está realmente modificado. É somente uma nova espada de Damocles na cabeça do Vampiro! Em compensação, a Transfusão de Sangue não cancela mordidas mais: ela somente dá de volta uma carta para as mãos do jogador.
Por último, mas não menos importante, um novo Ritual foi incluído: Água Benta. Ele permite que o portador da Estaca Ancestral descarte todas as cartas de um jogador e as substitua por dois Rumores. Isso pode ser uma maneira inteligente de mirar no estoque do Vampiro!
CE – Nós vimos outro dia a seguinte mensagem no Facebook da Grosso Modo: “Pirre-Yves Lebeau, criador do jogo Nosferatu, estará em breve no Brasil para um sessão de autógrafos”. Então, podemos nos preparar para recebê-lo aqui? Isso seria ótimo!
PYL – Bem, isso ainda é um sonho. E seria ótimo, realmente. Quando eu vi os vídeos e fotos das pessoas jogando Nosferatu no Brasil, eu adoraria ir e jogar com eles. Eu espero que o sonho se torne realidade!
CE – Para terminar, diga algumas palavras para os jogadores brasileiros!
PYL – Divirtam-se jogando Nosferatu! Eu estou muito feliz que vocês possam ter uma versão muito especial do novo em seu lindo país!